Migration on EUropean Stages
As últimas pancadas de Molière na Áustria
No dia 27 de novembro, a comitiva portuguesa, composta pelos alunos do 12.º A (André Costa, Bruno Pereira, Carolina Pereira e Maria Sá) e pelas docentes Dina Sarabando e Teresa Sousa, partiu para a quinta e última mobilidade, no âmbito do projeto de Erasmus MEUS («Migration on EUropean Stages»).
A aterragem deu-se na capital, Viena, a cidade imperial da velha Europa, mas a aventura daria os seus primeiros passos na cidade de Wolfsberg, na região de Caríntia, tendo recebido a distinção de cidadão honorário desta localidade austríaca Adolf Hitler, 7 meses antes de se ter tornado chanceler da Alemanha. Curiosidades à parte, assim que a equipa da Serafim Leite chegou à cidade na qual decorreria a formação em teatro de improvisação, a última modalidade dramática, sentiu-se, desde logo, o aroma do Natal e a decoração própria desta época não passou despercebida aos nossos olhares curiosos.
O sonho tornara-se realidade e os pés estavam, já, bem assentes no território austríaco. Os dias seguintes foram recheados de conhecimentos que guardaremos, alunos e professoras, para sempre, na nossa memória.
A escola do país anfitrião, HAK, fez-nos sempre sentir em casa, em ambientes mais formais ou mesmo informais, oferecendo-nos todas as comodidades necessárias para o nosso aconchego e para a implementação dos workshops, em torno do teatro de improviso, que tiveram lugar ao longo de toda a semana. Como é apanágio do projeto Erasmus, não faltou a apresentação dos países visitantes, Espanha, França (Ilha da Reunião), Noruega e Portugal, que revelaram características, tradições e símbolos do seu país natal. Os nossos alunos levaram, até, objetos típicos nacionais: camisola de Cristiano Ronaldo, avental lusitano, xaile de Amália Rodrigues, galo de Barcelos, Constituição da República Portuguesa, caravela e a figura de Luís de Camões. Um aspeto central da apresentação, no caso português, foi a divulgação dos pontos de aproximação entre Portugal e a Áustria.
No decorrer da semana, todos os intervenientes tiveram a oportunidade de provar pratos típicos austríacos e confessamos que não foi tão mal como julgávamos.
Uma outra atividade levada a cabo foi a construção, por nação, de uma coroa de Natal, uma tradição austríaca designada «Adventkranz binden». No final do primeiro dia da semana, pudemos, ainda, assistir, na escola, ao jogo de futebol entre Portugal – Uruguai.
O dia seguinte contou com a receção na Câmara Municipal, com mais atividades teatrais e com a incrível deslocação a Koralpe ou Koralm, uma cordilheira no sul do país que separa o leste da Caríntia do sul da Estíria, com uma elevação de 2 140 metros. Aqui, sentimo-nos a viver o Natal na verdadeira aceção da palavra. Foi, sem dúvida, um momento único e memorável com neve, brincadeiras, risos e 8 graus negativos. Mas nada impediu de aproveitarmos, ao máximo, este instante em terras austríacas. O almoço teve lugar no cimo da montanha, Koralpenhaus, tão aconchegante que nos fez acreditar que éramos, naquele momento, personagens de um conto de Natal.
No entanto, na quarta-feira, apesar de, igualmente, ter sido um dia inesquecível, as aventuras vividas foram distintas. Assim, viajámos até Klagenfurt, outra cidade austríaca, tendo visitado, de forma pormenorizada, o teatro local que recheou a nossa mente de características bem reais do mundo da representação, desde a confeção de perucas, à maquilhagem, à realização de cenários em madeira, à pintura, à parte musical. O restante dia foi aproveitado para calcorrear as ruas da cidade, apreciar monumentos, comprar lembranças e, claro, saborear o mercado de Natal cujos sons, cheiros, brilhos ficarão estampados, para sempre, na nossa mente. O café e a livraria dos gatos foram, também, destinos obrigatórios. Outro instante crucial, aliado à temática do Erasmus, recaiu no almoço, no restaurante Magda’s, que sobressai pelo facto de, em parceria com a Cáritas, empregar refugiados provindos dos mais diferentes países. Como planeado, no final da refeição, os alunos tiveram o prazer de dialogar com três profissionais da área (dois sérvios, embora um deles tivesse, já, vivido em Espanha e um outro italiano, o dono do estabelecimento). Foi, na verdade, um momento enriquecedor que primou por um maior entendimento da vida de tantos refugiados que procuram, em outros países, uma vida mais satisfatória, com medos, mas muita coragem.
No dia 1 de dezembro, embora feriado nacional em Portugal, para além das atividades teatrais, os formandos exploraram a cidade hospitaleira, Wolfsberg, assim como visitaram o museu local que nos revela a sua História, o «Lavanthaus Museum».
A mobilidade teve o seu fim, no dia 2 de dezembro, no qual tiveram lugar as últimas representações e a entrega dos certificados, momento representativo de mais uma missão cumprida.
Porém, para nós, portugueses, a viagem não chegara ao fim e, por isso, ainda na tarde desse dia, partimos para Viena e tivemos, assim, depois de um desejado jantar num restaurante italiano e grego e tendo retemperado as nossas energias, o privilégio de aproveitar, no dia seguinte, na capital deste requintado país em que, em cada esquina, se respirava História, Arte, Cultura e, claro, Natal. Sentimo-nos a desfilar num museu ilimitado em que todos os recantos solicitavam a nossa atenção. Os momentos para compras não foram esquecidos e os «souvenirs» eram imensos e não podíamos esquecer ninguém. Mais mercados de Natal foram percorridos por nós e algum do seu rico património histórico-cultural foi apreciado ou visitado: a elegância dos edifícios que nos fizeram viajar para os séculos XVIII e XIX; os elegantes jardins; a praça vienense (espaço de expressão artística); os palácios do século XIX, atuais museus gémeos, no meio dos quais está a soberba estátua da Imperatriz Maria Teresa, rodeada dum belo e cuidado jardim, o Maria-Theresien-Platz; o Naturhistorisches Museum (o Museu de História Natural); o Palácio da Justiça; os Aposentos Imperiais, por onde andou a imperatriz Sisi; Outer Castle Gate; o Museu Albertina; o Mumok e, claro, a ilustre casa de espetáculos da capital austríaca, a Ópera de Viena, entre outros.
Já com um olhar passadista, com o adeus (ou um até breve) à Áustria, no dia 4 de dezembro, todos sentíamos o mesmo: esta fora, indubitavelmente, uma viagem enriquecedora e singular, que atingira níveis elevados, durante a qual conseguimos contactar, até, com outros portugueses, porque a raça lusitana deixa a sua marca, na Europa e no Mundo. Voltar um dia? Talvez! Mas uma coisa é certa: valeu tanto a pena!
Dina Sarabando
Para terminar este percurso, cumprindo os preceitos de Erasmo de Roterdão, eis os testemunhos dos nossos aventureiros por terras austríacas:
* André Costa – Para mim, este Erasmus foi muito especial, sendo o meu primeiro, acabando por me marcar muito. Gostei imenso de conhecer pessoas novas e, especialmente, da gastronomia diferente. Adorei poder aventurar-me pelas ruas de Áustria com os meus amigos e professoras. Certamente, levarei memórias para a vida.
* Bruno Pereira – Para mim, este Erasmus foi um abrir de olhos. Os costumes, a forma de viver e de pensar dos austríacos, realmente, me fizeram refletir, já para não falar que a sua gastronomia, apesar de um pouco estranha é, de facto, muito boa. Tenciono, sem dúvidas, um dia mais tarde, lá regressar!
* Carolina Pereira – Este Erasmus foi o meu primeiro e, por isso, sinto que foi muito importante. Aprender novos costumes e hábitos, bem como conhecer novas pessoas de várias nacionalidades, trouxe-me bastante conhecimento. Esta mobilidade recaía no teatro de improviso e sinto que todos os workshops que tivemos foram interessantes e cativantes, não deixando de ser educativos. A Áustria, país onde esta mobilidade decorreu, tem bastante história, tendo monumentos lindíssimos e, como estamos perto no Natal, as ruas estavam repletas de mercados de Natal, o que tornou a visita pela capital, e não só, muito mais bonita. Sem dúvida, uma experiência a repetir!
* Maria Sá - Para mim, este Erasmus foi uma semana inesquecível! Não só ganhei mais conhecimento sobre o teatro de improvisação, como também conheci novas pessoas, fiz novas amizades e vi paisagens inesquecíveis. Amei conhecer a Áustria, um país lindo e, com certeza, um dia, voltarei para visitar este país, porque uma semana não foi suficiente!
* Prof. Teresa Sousa - Esta semana por terras austríacas foi um deleite: boa relação com os elementos de todas as comitivas, um grupo lusitano fantástico, alunos motivados, responsáveis e bem-dispostos que se envolveram ativamente em cada um dos workshops, imprimindo o seu dinamismo, aproveitando sempre para acender a chama e o orgulho nacional. Recordo o espanto de todos, quando, apressadamente, todos nos levantámos para cantar o nosso hino nacional, que antecedeu o jogo de futebol Portugal-Uruguai, assim como a oportunidade que tivemos em “presentear” o nosso motorista, a caminho de Wolfsberg, com a cantoria de uma música na nossa língua e, numa das sessões de improviso, cantarolar em português.
Todos as atividades foram vivenciadas com muito agrado, tarefas de improviso diversas e muito participadas, visitas diversificadas, conversas multilingues muito bem aproveitadas, umas mais sérias como a entrevista aos refugiados estrangeiros, agora cidadãos austríacos, outras mais informais como aquelas com os outros alunos e seus professores.
O frio (que se receava ser desencorajador) foi motivador de maior aproximação de todos e a comida uma agradável surpresa. Espero regressar, um dia, a este país encantador cujos habitantes revelam extremo civismo e respeito pelo que é público e cultural. Como diz o ditado popular, “o que é bom acaba depressa”.