No dia 13 de janeiro de 2014, a Serafim Leite, como tem sido usual, no âmbito do projeto nacional «Parlamento dos Jovens», recebeu, mais uma vez, um distinto Deputado da Assembleia da República. Este ano, a sorte ditou que acolhêssemos um dos representantes do Partido Socialista e do Círculo Eleitoral de Aveiro, na Casa da Democracia, o Dr. António Cardoso, circunstância que muito nos orgulhou e honrou, na medida em que, para além da sua experiência política, não esquecemos o facto de este Engenheiro Mecânico ter dado os seus primeiros passos rumo ao seu futuro profissional na nossa escola.
Receção de boas-vindas
Por isso, no átrio do nosso estabelecimento de ensino, homenageámo-lo através da declamação de um poema em torno da sua própria vida, ao som da melodia provinda de uma viola de arco, momento protagonizado por dois alunos do 12.ºA, Miguel Lopes e Sara Santos. Já com a lágrima ao canto do olho, o nosso Deputado agradeceu o gesto simbólico e recebeu, das mãos da Direção, na pessoa da Dr.ª Anabela Brandão, as lembranças da nossa Serafim. E, nesta receção, o ilustre convidado não deixou de referir que as suas emoções afloraram, na medida em que se "sentiu em casa" e porque as palavras que lhe foram dirigidas fizeram-no reviver os seus tempos de jovem.
Posto isto, até porque os trabalhos assim o exigiam, seguimos para o Centro Multidisciplinar Interativo preenchido com mais de uma centena de jovens Deputados, repletos de curiosidade e que conheceram in praesentia o convidado.
O debate vai começar...
Após as boas-vindas, por parte da Diretora da Escola e dos pequenos cantores da Serafim Leite, orquestrados pela professora Sandra Tudella, a aluna Andreia Rocha, do 12.º A, membro da Comissão Eleitoral Escolar, procedeu à abertura do debate, solicitando a colaboração de todos, sobretudo porque estavam em discussão temas tão pujantes como as Drogas e a Crise Demográfica que, hodiernamente, tanto preocupam a sociedade portuguesa.
O Deputado convidado, dirigindo-se aos presentes, agradeceu a maciça presença e o interesse de todos os serafinos, assim como os gratulou por serem alunos da "grande escola que é a Serafim Leite". De seguida, referiu o papel da Assembleia da República e, em particular, do projeto "Parlamento dos Jovens" que, com o seu leque de objetivos pertinentes, tanto tem promovido e incentivado os jovens a dar uma maior atenção aos assuntos políticos assim como tem estimulado uma educação para a Política, que deveria ser uma prática de todos os portugueses. Recordou, mais uma vez, o facto de, com a idade da maioria dos presentes, ter sido aluno da nossa escola, na sua faceta de escola industrial.
Primeira ronda
No decurso do debate, composto por quatro rondas, foram lançadas ao Deputado diversas questões, por parte dos protagonistas das 12 listas, que abarcavam os temas em jogo, assim como outras mais relacionadas com a sua vida política que suscitaram o interesse dos jovens Deputados. Saciando a curiosidade das listas A, B e C, o Deputado, nesta sessão conjunta, mencionou, dando continuidade ao trabalho parlamentar, que as duas legislaturas de que fez e faz parte, a 7.ª e a atual, a 12.ª, têm sido bastante enriquecedoras e a experiência positiva, não destacando nenhuma iniciativa como mais singular na sua carreira política.
Relativamente ao encerramento de hospitais e centros médicos, já claramente parcos em relação às necessidades dos portugueses, o convidado declarou, afincadamente, que tal dilema também o preocupa, não entendendo, apesar dos tempos de austeridade e dificuldades, que cortem nestes serviços, considerando impensável, por exemplo, o fecho do Hospital de S. João da Madeira e mesmo a gestão a cargo de setores privados é uma questão preocupante. Terminou a discussão em torno desta problemática, transmitindo que a Medicina deve ser um bem ao serviço de todos e não apenas de alguns em concreto e que os centros de saúde são, efetivamente, uma mais-valia para a população. Uma das conquistas com a Revolução dos Cravos foi o Serviço Nacional de Saúde, por isso, defende que o SNS deva ter o devido respeito. Acrescentou, ainda, que não pode haver, na sua perspetiva, hospitais para ricos e hospitais para pobres, daí que, conforme confessou, estará sempre do lado dos sanjoanenses na luta contra o fecho do Hospital de S. João da Madeira.
Segunda ronda
Numa segunda ronda, estando no cerne as questões das listas D, E e F, o Deputado confirmou que vivemos, efetivamente, a maior crise de sempre, pós 25 de abril. A dívida pública é inquietante (continuando a subir) e, tendo em conta a aplicação das medidas de austeridade que visavam reduzir o défice, o certo é que estas não conduziram a mudanças. Por isso, é urgente que nasçam novas políticas para o país.
O desemprego aumenta e deparamo-nos com uma enorme falta de crescimento económico, o que coloca Portugal numa situação bem débil. Todavia, apoquenta, num mundo em crise, a todos os níveis, ainda mais, a questão ideológica, até porque, daqui a cerca de 6 anos, os jovens atuais serão os futuros líderes da juventude com responsabilidades nas políticas locais, regionais e nacionais. Urge, portanto, mudar mentalidades, a partir de... agora!
Atualmente, as políticas conduzem ao entorpecimento do país, a um elevado nível de desemprego e à pobreza calamitosa do nosso cantinho à beira-mar plantado que tem sido alvo de cortes cirúrgicos em setores cruciais. Tudo isto é alarmante e tem conduzido a desfasamentos sociais inaceitáveis.
Abordando o tema da droga, o Deputado relembrou que existem vários tipos e que cada jovem deve construir um escudo de proteção preenchido por várias regras, as quais foram, claramente, enumeradas: uma boa relação familiar; o diálogo constante e profícuo com os (verdadeiros) amigos, com os professores e Diretores de Turma; o esclarecimento de dúvidas e anseios com as pessoas mais próximas; o não contacto com estranhos; a recusa de qualquer oferta; a fuga às más companhias. Apesar do que parece ser uma "receita", o Deputado revelou que não é fácil dizer "NÃO" e que este dilema tem evoluído, entre os jovens, de uma forma crucial. Nesse sentido, informou que, na sua juventude, as drogas mais badaladas eram o álcool e o tabaco e que (imaginem) a coca-cola era proibida. Tempos distintos, sem dúvida!
É necessário que os jovens não caiam nestes caminhos desviantes e que procurem outras alternativas como o desporto (de que é adepto), a leitura, as artes e a cultura – que considerou boas saídas e áreas mais saudáveis para os jovens.
O Dr. António Cardoso não deixou de referir que, na geração atual, prolifera um novo tipo de droga: a dependência desregulada das novas tecnologias. Os jovens estão, realmente, mais fortes, mas falta-lhes um estado saudável, o que se acentua com o seu afastamento de uma prática desportiva e com a adoção de um estilo de vida tão sedentário. Exemplo disso é o facto de, há 10 anos, todos correrem "atrás da bola" e, hoje em dia, tal já não sucede
Partindo para a crise demográfica, um tema mais dirigido aos alunos do Ensino Secundário, que considera um problema grave, o Deputado referiu que os casais mais jovens vivem, sem dúvida, uma vida complicada que não lhes permite qualquer estabilidade e daí a taxa de natalidade ser cada vez mais reduzida, o que é mau para o futuro do país, agravando, de igual modo, a necessidade de as pessoas emigrarem.
É – confessa – um outro dilema que, a curto prazo, vai merecer a preocupação dos nossos governantes, uma vez que, em Portugal, a tendência é para aumentar o número de gente aposentada e decrescer o número daqueles que trabalham no ativo.
O que fazer, então? Urge desenvolver políticas de incentivo à natalidade: direito ao vencimento após o nascimento dos filhos, cedência de abonos e uma proteção mais forte à maternidade e à paternidade.
Terceira ronda
Passando à penúltima ronda, com as listas M, I e N, o Deputado respondeu que (e assumindo a sua faceta de professor) não concorda com a implementação das Provas de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades, após anos de formação superior e estágios integrados. Confessou mesmo que, numa audiência ao Ministro da Educação, lhe transmitiu que considera tal iniciativa (que já julgava "enterrada") uma verdadeira aberração na avaliação dos professores. É incompreensível que professores com menos de 5 anos de serviço sejam sujeitos a uma prova com 2h de duração, com critérios muito dúbios, a qual poderá pôr em causa toda a atividade profissional.
Embora haja necessidade de avaliar o desempenho dos professores, como em todas as profissões, tal iniciativa é inaceitável, conforme declarou.
Voltando, novamente, ao tema das drogas, o Deputado manifestou o papel das escolas na promoção de programas de combate ao flagelo das drogas. Relembrou a existência de linhas de apoio e sugeriu a implementação de protocolos com entidades que possam ajudar nesta luta quotidiana.
Quarta ronda
Por fim, intervieram as listas L, T e V. Assim, colocado perante o dilema de quais as três transformações que agilizaria, a fim de melhorar o nosso país, caso tivesse poder para tal, o Deputado simplesmente respondeu: Educação, Educação e Educação! E, conforme argumentou, proferiu que só esta faz a diferença entre um país rico e um país pobre. Para transformar Portugal, são necessárias outras políticas, outras vontades e pessoas mais competentes. Não podemos continuar a cair no erro de políticas que bloqueiam e que empobrecem cada vez mais o nosso país.
Relativamente à situação complicada pela qual atravessa o nosso país, dado que, segundo as estatísticas, em 2012, emigraram cerca de 100 mil portugueses, atendendo à falta de condições, o Deputado mencionou que esta é, efetivamente, uma realidade que nos aflige e que os portugueses vivem com muita tristeza. E a emigração já não surge integrada no espírito português de aventura, é mais uma necessidade dura. E ainda mais revolta causa quando se ouve o Primeiro-ministro a proclamar, para todo o país, que os portugueses devem emigrar. Tais palavras só podem mesmo advir de quem nunca sentiu na pele o fenómeno da emigração.
É cruel assistir à desertificação do país - tal não pode continuar, sendo premente uma reforma, por parte do Estado português. E o Deputado não deixou de alertar os jovens presentes para as dificuldades que sentirão, aquando do término do 12.º ano, não só ao nível da sua colocação profissional, mas também no que respeita aos custos que acarretará a educação superior.
Investir na formação é, de acordo com a opinião do Dr. António Cardoso, o FUTURO e focou, ainda, a necessidade de não se cair no materialismo típico da sociedade atual ao encontro da filosofia do "salve-se quem puder".
Elogios aos Deputados da Serafim
Terminado o debate, o Deputado congratulou os participantes pela pertinência e ótima formulação das questões que conduziram a comentários dignos de reflexão, assim como elogiou o tempo de intervenção e a comunicação e argumentação das questões. Deste modo, em tom de brincadeira e, numa analogia escolar, declarou que os jovens Deputados da Serafim mereciam 18... 19 valores!
Viagem ao passado
Mais uma vez, na reta final do encontro parlamentar, recordou que, há 45 anos, estava na posição dos jovens ali presentes, embora noutras condições bem mais precárias e, nesse sentido, não deixou de relembrar algumas situações por si vivenciadas como o facto de percorrer 7km, desde Pigeiros, para chegar à sua escola.
Mensagem final
Por fim, deixou uma pequena mensagem com sabor a futuro: "Há que lutar pelas vossas ideias e pelos valores em que acreditam e propaguem a vossa vontade. Façam política, com entusiasmo, mas sempre com princípios, respeitando os outros. Sejam sérios!" Foram estas as palavras finais do nosso palestrante...
E, olhando para trás, podemos concluir que todos saímos com a convicção de que foi, incontestavelmente, um momento muito bem passado. Diria mais: um momento político que se tornou bem familiar e que proporcionou uma viagem no tempo ao nosso convidado.
Dina Sarabando
Dina Sarabando