Do programa de Português, do 11.º ano, fazem parte prestigiadas obras criadas por nomes sonantes do panteão nacional: Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco e Almeida Garrett. Assim, na visita de estudo, que teve lugar nos dias 18 e 19 de maio, os alunos do 11.º A e B, acompanhados pelas docentes Dina Sarabando, Sónia Aires e Teresa Sousa, no âmbito do estudo das obras «Os Maias», «Amor de Perdição» e «Frei Luís de Sousa», respetivamente, percorreram espaços emblemáticos relacionados com o referido programa, na vila de Sintra e na capital, embora não tenham faltado, igualmente, referências a outras obras do corpus textual do Ensino Secundário.

Deste modo, diversos foram os recantos de Portugal que encantaram os alunos da Serafim Leite e que os ajudaram a aprofundar os seus conhecimentos literários, culturais e artísticos.

Esta iniciativa incluiu, logo no primeiro dia, depois de uma viagem de, sensivelmente, quatro horas, desde S. João da Madeira, uma entrada no Palácio Nacional de Sintra, ex-libris da vila e um exemplar único da arquitetura civil portuguesa. É constituído por várias edificações, à volta de pequenos pátios, sobressaindo duas chaminés da cozinha gótica. O seu aspeto atual deve-se a duas etapas de obras: à primeira, no reinado de D. João I, ficou a dever-se o corpo do edifício; e à segunda, no reinado de D. Manuel I, a riqueza do interior do palácio. Portanto, ao contemplar esta obra de arte nacional, de acordo com o que ia sendo explicado pelas guias, conseguimos, igualmente, viajar rumo às obras de Fernão Lopes («Crónica de D. João I»), às cantigas de amigo de D. Dinis e a Camões («Os Lusíadas»). Aliás, uma fantástica informação que todos retivemos foi o facto de ter sido precisamente no Palácio Nacional de Sintra que teve lugar a leitura d’ «Os Lusíadas» ao rei D. Sebastião.

Depois de completarmos a visita e após muitos “clics” para a posteridade, o passo seguinte foi o já desejado almoço. Fomos saindo, de forma a nos reunirmos junto à entrada do Palácio de Sintra. Os alunos da Serafim foram dispersando, escolhendo o seu cantinho para o almoço, embevecidos pela linda paisagem circundante e os múltiplos turistas que têm crescido, ano após ano.

Seguiu-se o percurso queirosiano cuja finalidade era dar a conhecer aos visitantes serafinos o ambiente oitocentista desta vila, que o grande prosador Eça de Queirós utilizou como “palco” em diversas obras. Começámos, então, o referido roteiro queirosiano, habilmente descrito na obra, como parte integrante de um dos momentos altos do enredo d’ «Os Maias», concentrado no capítulo VIII, em que Carlos da Maia, numa busca incessante pela amada – e irmã - Maria Eduarda, desloca-se, acompanhado de Cruges, a vários hotéis (Nunes, Lawrence e Seteais), considerados os melhores situados e com a mais bela paisagem envolvente, quer natural, quer monumental da vila. Por isso, o primeiro ponto desta visita foi o Hotel Nunes, entretanto restaurado, onde Carlos da Maia e Cruges ficaram hospedados e onde encontraram Palma Cavalão e Eusebiozinho, acompanhados de duas prostitutas espanholas, Concha e Lola. Ao longo deste percurso, os alunos, distribuídos por grupos, previamente formados, foram cumprindo um peddypaper, de acordo com os locais a visitar, através de perguntas e de fotografias. Há a referir, também, o facto de os próprios alunos terem «vestido» o papel de guias turísticos, nesta caminhada por Sintra.

O passeio pelo centro histórico da vila velha continuou seguindo-se o Hotel Lawrence. Este é o hotel mais antigo e, outrora, um dos mais requintados da Península Ibérica, onde Carlos da Maia jantou com Alencar um prato que, ainda hoje, consta da ementa do hotel, «Bacalhau à Alencar». Continuámos a nossa caminhada até chegarmos à Quinta da Regaleira, terminando o trajeto em Seteais, onde os alunos se deslumbraram com o seu grandioso jardim e o seu sui generis arco. Hoje, é uma unidade hoteleira, mas o Palácio de Seteais (cujo nome é inspirado na lenda dos sete ais) foi edificado no último quartel de século XVIII, pelo cônsul holandês Daniel Gildmeester. Nos finais desse século, a propriedade foi vendida ao Marquês de Marialva, Estribeiro-Mor do Reino, que acrescentou à primitiva construção um segundo núcleo, ligando-os por um arco encimado pelo brasão real e por um medalhão que contém as efígies de D. João VI e de D. Carlota Joaquina. Este arco permitiu, numa visão peculiar, avistar o Palácio Nacional da Pena, envolto em nevoeiro, aquele que é o mais completo e notável exemplar da arquitetura portuguesa do Romantismo. Remonta a 1839, quando o rei D. Fernando II, de Saxe Coburgo-Gotha, adquiriu as ruínas do Mosteiro Jerónimo de Nossa Senhora da Pena e iniciou a sua adaptação a palacete. Para dirigir as obras, chamou o Barão de Eschwege, que se inspirou nos palácios da Baviera, a fim de erguer este notável edifício.

No regresso ao centro da vila, outro lugar cultural mereceu a nossa visita: o Palácio da Regaleira, Património Mundial da UNESCO, construído na transição do século XIX para o século XX e norteado pelos ideais do Romantismo. É toda ele um espelho dos interesses culturais, filosóficos e científicos do proprietário, o Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro, milionário e filantropo, herdeiro de uma considerável fortuna, que lhe valeu a alcunha de “Monteiro dos Milhões”, que retinha um gosto particular pela ópera, livros, instrumentos musicais, relógios, conchas, borboletas e uma vasta paixão pela obra do poeta Luís de Camões.

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O Palácio da Regaleira é um verdadeiro paraíso e aqui nos retivemos durante um largo período da nossa tarde. Vários foram os espaços que mereceram a nossa atenção: as cocheiras; o Portal dos Guardiães (no qual apreciámos a figura romana de dois tritões, que assumem a função de guardiães de passagem, entre a Luz e as Trevas, sustendo nas patas um búzio que replica a Trompeta do Tritão), destacando-se, aqui, o interesse que Carvalho Monteiro cultivava pela malacologia; o Poço Iniciático (integrado no bosque que simboliza o conhecimento e a consciência de cada um que nos conduz ao aforismo latino, Nosce te Opsum, ou seja, conhece-te a ti próprio, muito próximo da ideologia pessoana e da viagem iniciática presente, por exemplo, em «Os Lusíadas», o qual sugere um monumento funerário megalítico e que surge como uma imensa torre cilíndrica que se aprofunda cerca de 27 metros no interior da terra), o qual dá acesso a um complexo de túneis labirínticos imersos nas trevas; o Poço Imperfeito; o Lago da Cascata (no qual culmina o percurso simbólico da viagem iniciática, de morte e renascimento); a Gruta do Oriente; a Torre da Regaleira (de aspeto neomedieval, com os seus merlões e guaritas, simulando um lugar de vigia); a Capela (obra-prima que revela a arquitetura neomanuelina, enaltecendo o alto valor da escola coimbrã de escultores e canteiros de grande mérito, à qual pertenceram Antero de Quental e Eça de Queirós e na qual pudemos apreciar, embora só do lado exterior, uma escultura de Santo António (modelo do Padre António Vieira e do seu sermão) e um painel de mosaico veneziano onde figura o santo a pregar aos peixes); o Patamar dos Deuses (ostentando, ao longo da alameda, nove divindades da mitologia greco-latina – Hermes|Mercúrio, Hefesto|Vulcano, Dionísio|Baco, Pã, Deméter|Ceres, Flor, Afrodite|Vénus, Leão, Apolo|Febo e Fortuna); o Palácio (projetado pelo arquiteto italiano Luigi Manini, evocando o estilo manuelino e destacando-se, aqui, na sala dos reis, duas galerias iconográficas, cada uma constituída por doze retratos policromos, representando vinte reis e quatro rainhas de Portugal – algumas das figuras fazem parte do estudo de obras dos 10.º e 11.º anos, como Inês de Castro, D. Dinis, D. Fernando I, D. João I, D. Manuel I, D. Sebastião, D. João IV, e outros serão abordados no próximo ano de escolaridade).

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Concluído este trajeto, voltámos para a zona do Palácio Nacional de Sintra, onde lanchámos, comprámos recordações e, ao contrário de Cruges, não nos esquecemos das queijadas e dos travesseiros, na ilustre Piriquita, e que bem nos souberam!

À hora combinada, encontrámo-nos junto à paragem de autocarro para iniciarmos a viagem rumo a Oeiras, uma vez que ficámos instalados na Pousada da Juventude de Oeiras com vista para o mar.

Já no segundo dia da visita e, desta vez na capital, depois do adeus à maravilhosa vila de Sintra, os alunos e as professoras tiveram a oportunidade de assistir, no Auditório de Santa Joana Princesa, a um espetáculo inspirado na obra de Almeida Garrett, «Frei Luís de Sousa», levada a palco pela companhia teatral «Actus», que tanto cativou os alunos do AESL e que serviu, sem dúvida, de revisão da matéria.

O Centro Comercial Colombo foi o local escolhido para o almoço deste dia e, logo depois, a visita teve lugar no Museu dos Coches Reais, uma iniciativa da rainha D. Amélia d’Orleães e Bragança, princesa de França, casada, em 1886, com o futuro rei de Portugal, D. Carlos I. 110 anos depois, o espaço ganhou um novo edifício, mais moderno. Agora, o museu reúne uma coleção única no mundo de viaturas de gala e de passeio dos séculos XVI a XIX, na sua maioria, provenientes da Casa Real Portuguesa, a que se acrescentaram veículos vindos dos bens da Igreja e de coleções particulares. Este roteiro secular, devidamente guiado por profissionais, permitiu-nos viajar, sobretudo, pelas obras «Amor de Perdição» e «Os Maias», nas quais percecionamos imensas referências a transportes epocais: liteira, coche, sege, tipoia,… De igual modo, outras obras foram mencionadas, como as saramaguianas, sobretudo, e esta visita permitiu, também, a compreensão da evolução técnica e artística dos meios de transporte de tração animal, utilizados pelas cortes europeias até ao aparecimento do automóvel. Ainda neste local histórico, os alunos puderam, ainda, usufruir de uma oficina centrada na técnica de douramento de um peça – um coche – e de uma exposição em torno d’ «Os Lusíadas», «E vós, Tágides minhas…», no âmbito das comemorações dos 450 anos da 1.ª edição da epopeia nacional, da autoria de Norberto Nunes que, desta forma, homenageou com 20 obras de pintura, escultura e diversos objetos, como guitarras portuguesas pintadas de forma original, a mais icónica criação da literatura lusitana. Entre as criações do artista, sobressai uma magnífica pintura, com 10 metros de comprimento, na qual nos são dados a conhecer episódios de cada um dos 10 cantos da obra de Luís de Camões - »porque ao destino de sucesso da epopeia deve juntar-se o do povo; quer seja no jogo de xadrez gigante que simula, num suspense mudo e expectante o encontro de Vasco da Gama com o célebre Samorim de Calcutá”.

Foi, na verdade, uma estupenda visita de estudo, repleta de aprendizagens, tendo a comitiva serafina chegado a S. João da Madeira salva, sã e, com certeza, com uma bagagem muito mais enriquecida. Obrigada, povo lusitano! Obrigada, serafinos!

Professora Dina Sarabando, 11.º A & B


 
 
 

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