2 de Outubro de 1910

Um numeroso grupo de conspiradores republicanos reuniu-se a noite passada numa conhecida taberna desta cidade de S. João da Madeyra, com o intuito de unirem esforços no derrubamento da ordem constitucional monárchica e do nosso muyto amado Rei D. Manoel, o segundo deste nome.

Assim, apenas dois anos após a visita de Sua Majestade, esta terra, que tanto o aplaudio, vê manchada a sua reputação, pela acção de um bando de conspiradores, carbonários, maçons e quejandos, organizados no Centro Republicano “Espaço Aberto”, que procuram, por todos os meios, pôr fim a um regime que nos governa há quase mil anos.

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As primeiras testemunhas de tão  sinistro repasto foram dois populares que por alhi passavam e que mostraram alguma sorpresa por aquele ajuntamento, uma vez que tem constado que a maior parte dos revoltosos estão no extrangeiro ou degredados nas colónias d’África, por ordem dos tribunaes do nosso pays.

Conta quem vio, o repasto era constituído por caldo verde e bacalhao com broa e que a sessão foy animada por numerosas e inflamadas proclamações a que se seguiam ruidosas salvas de palmas acompanhadas por Vivas à república e por surriadas à Monarchia!

Entre os conspiradores encontravam-se numerosas molheres que, em vez de estarem no recato do lar a tratar dos seus maridos e a educar os seus filhos, resolveram ajuntar-se à turba de malfeytores e inimigos da Pátria. Entre elas estava a inconsolável irmã do malogrado Cândido dos Reis que ainda há bem poucos dias pôs termo à vida com um tiro na cabeça. A senhora lamentou o desaparecimento do seu infeliz irmão, que Deus tenha em descanso, apesar de todas as malfeitorias que fez à nossa Querida Pátria. Notada foi também a presença  da conhecida sufragista Carolina Beatriz Ângelo que, mais uma vez, defendeu o voto das molheres e outras liberdades impróprias do bello sexo.

Como não podia deixar de ser, a sessão foy também agitada por três furiosos cabecilhas republicanos da nossa praça, que fizeram inflamadas proclamações e juras de fidelidade à república: os conhecidos Teóphilo Braga, Pinheiro Chagas e Ramalho Ortigão.

Mas o mais exaltado e acintoso dos oradores foy, sem dúvida, o escritor Guerra Junqueiro que, escondido atrás das suas longas e pouco honradas barbas, esconjurou a Monarchia defendendo-se de algumas acusações de que tem sido alvo, nomeadamente de ter chamado a Sua Majestade “uma tirania de engorda e vista baixa”. Pouco depois d’elle, um outro inflamado carbonário havia de berrar aos sete ventos que a “luta legal terminou há muyto” e que era tempo de o partido republicano se lançar na revolução, dado que o país estaria “cahido no mais  profundo abatimento “ .

Para mostrar que ainda há nesta terra autoridade e bom senso, o desvairado jantar, dito “aberto, sigiloso e conspirativo”, foi interrompido por um official da Goarda Municipal, General Malaquias de Lemos, que deu voz de detenção aos presentes e que os obrigou a acompanhá-lo à prisão, "de forma livre ou contra a sua vontade". Mas nem assim os contumazes revoltosos desistiram dos seus intentos conspirativos: algum tempo depois, apesar da prohibição, voltaram a reunir-se no local, para fazerem um brinde final à república e cantarem o conhecido fado de Augusto Gil intitulado “Destruir a Monarchia”, interpretado por um trio de afamadas fadistas de botequim.

Para que nem tudo fosse negativo, a malquista sessão contou com a presença do conhecido photógrafo maçónico portuense, o senhor Aurélio Paz dos Reis, de cuja autoria são as photos publicadas nesta notícia.

Oxalá os próximos dias não nos tragam piores novidades…

São João da Madeyra, aos dois de Outubro do ano da graça de mil novecentos e dez.

 

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Jantar republicano - outubro de 2010

 

 

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