“Imagina… o mundo depois da pandemia”. - Opinião
Por Maria Brito (10ºB)


O covid-19, ou coronavírus como gostamos mais de lhe chamar, não veio facilitar a nossa vida. Bem pelo contrário, veio mudá-la por completo. A partir do momento em que a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou o estado de pandemia mundial, as nossas rotinas diárias alteraram-se drasticamente.

 


Da noite para o dia, vimos escolas e empregos a fecharem durante tempo indeterminado, atirando tantos seres humanos para situações precárias e sem controlo. Embora a parte económica seja muito importante para toda a sociedade, optemos antes por enveredar por uma visão que, de certo modo, é mais visível e esclarecedora, mesmo estando encarcerados nas nossas casas. Assim que fomos confrontados com o confinamento, chegámos a acreditar que não seria muito mau, visto que, afinal, nos encontrávamos no conforto do nosso lar e com as pessoas que amamos. Aproveitámos, nos primeiros tempos do estado de quarentena, para voltar os nossos olhos para diferentes formas de arte e para investir em vários passatempos. Assim, o tempo foi ocupado com a leitura e a música, o visionamento de filmes e de séries televisivas, a culinária, o desporto e até a meditação. E, após algum tempo, tudo isto nos começou a soar a pouco e a falta do toque humano iniciou a sua procissão.
No momento em que todos nós começámos a sentir falta de treinar ao ar livre e de estar em reunião com os nossos amigos, o nosso olhar voltou-se para assuntos que não valorizávamos anteriormente. A nossa mente, como se tivesse expulsado todas as ideias e informações retrógradas e fúteis, mergulhou num novo estado de absorção, do qual fugiríamos se não fosse o novo quotidiano. O ser humano, como um todo mais poderoso, observou as injustiças em seu redor.
Foi a partir dessa simples ação que o mundo acordou e usou, finalmente, a sua voz contra o que considerava incorreto e imoral. Embora este tenha sido, de facto, um grande e importante passo em direção ao caminho certo, também é possível condenar a sua demora. Foi necessário que a humanidade fosse confinada, individualmente, para que os assuntos realmente importantes se tornassem novamente na música das redes sociais e dos telejornais. Foi necessário que o ser humano se sentisse tão sozinho para se conseguir lembrar das outras realidades existentes e dos que se sentem sozinhos no mundo, a batalhar constantemente até à morte para que a sua voz chegue a ser apenas um suspiro na revolução. Na verdade, todos deveríamos usar a nossa voz, comparável a um megafone para amplificar os suspiros. Mas, durante muito tempo, os fios foram cortados e os nossos megafones não foram recarregados, a nossa voz, ignorou o seu propósito.
Portanto, a verdadeira saudação de soldado revolucionário não se aplica a todos aqueles que “ignoravam” quotidianamente estas situações. As balas, disparadas em direção ao céu, homenageiam verdadeiramente todos aqueles que diariamente vivem soterrados na injustiça, na pobreza e na miséria. Homenageiam todos os que tentam fazer-se ouvir, batalhando pela justiça social.
De todos estes novos aliados, quantos irão permanecer quando o mundo voltar ao normal? Mesmo que este “normal” não seja semelhante ao que outrora conhecíamos, será que continuarão a olhar para as dificuldades e para as minorias com os mesmos olhos? Ou, pelo contrário, irão retomar às suas visões e pensamentos anteriores, ignorando estes problemas?
Estes tempos deixam-nos estas questões. A ribalta inesperada da severidade destas situações veio despertar ondas revolucionárias capazes de engolir ministérios e marcos históricos inteiros. A ignorância e a indiferença foram retiradas da mesa, mas será que se preparam para o seu retorno?
Considerando todos os nossos precedentes, seremos capazes de desenhar o nosso futuro? Não. Não o podemos fazer com precisão, mas podemos desenhar várias alternativas.
Na minha opinião, tendo em consideração o nosso comportamento após a conquista de diferentes marcos históricos, o retorno aos velhos hábitos é quase inevitável. Não o encaro como um veredito final, mas possível. Com efeito, quando um povo específico luta pela liberdade e a alcança, continua a mesma luta por diferentes povos, ou seja, essa necessidade não fica saciada? Até hoje, apesar da tão falada “intersolidariedade” nos momentos difíceis, o ser humano tem se mostrado extremamente egoísta e, simultaneamente, dependente. Ele espera não ter de travar lutas pelos outros, mas que cada um trave as suas. Contrariamente a esta visão, não devemos deixar este lado prevalecer, pois as injustiças devem ser eliminadas e a solidariedade deve vingar em todas as horas, com ou sem confinamento.
Se somos livres no pensamento, podemos também ser livres nos gritos e não apenas nos sussurros. Devemos tomar na nossa mão a mudança em vez de olhá-la de soslaio e a uma distância segura. Deixo-vos então esta questão: será que o Cosmos enviou esta doença mortífera para obrigar a humanidade a parar e a pensar realmente nas questões essenciais?

Maria Brito (10ºB)


Texto de resposta a um desafio colocado pela Amnistia Internacional subordinado ao tema “Imagina… o mundo depois da pandemia”.

 

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