No seu livro Escape To Freedom (1941) Fromm ómicos precedentes, mas o homem da sociedade industrial capitalista pagaria com isolamento a desenvolve uma teoria que assenta numa das teses centrais de Simmel: a sociedade industrial moderna libertou o individuo dos laços e restrições que o entravavam nos sistemas econsua liberdade.
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Para fruir esta liberdade, o homem desenvolveu diferentes mecanismos de defesa e fuga: a submissão à autoridade de um chefe carismático é disso um exemplo. Representa o desejo de submissão a um chefe poderoso que representa uma imagem paternal. Fromm dá um exemplo do mecanismo de fuga, que reside na submissão a uma forma de conformismo coercitivo, tal como vemos na sociedade americana de massas. O conformismo revela-se nos objectos e necessidades procuradas, e nas modalidades de satisfação dessas necessidades. A satisfação conformista das necessidades encontra-se facilitada pela produção massiva de bens de consumo produzidos industrialmente. Segundo Fromm, o conformismo constitui um sentimento superficial e pertença e partilha de segurança.
Numa obra posterior, The Sane Society (1955), aborda um problema semelhante, mas a sua perspectiva modifica-se. A Segunda-Guerra Mundial pôs em evidência os poderes incrivelmente destruidores que o homem pôde conceber e dos quais pode fazer uso. Os seres humanos são doentes, ou vivemos numa sociedade doente? Fromm tenta responder a esta questão, e é à volta desta análise que a temática da alienação vai ter lugar.
De um ponto de vista sociológico, esta questão é à primeira vez confusa. Como é que é possível determinar o estado de saúde de uma sociedade? Mas teorias sociológicas fala-se, por vezes, dedesorganização, desintegração, disfuncionamento relativamente a certos critérios funcionais predeterminados. Mas para além dessa, existe uma tese sociológica, largamente divulgada, segundo a qual os problemas sociais provêm da incapacidade individual de se adaptar socialmente. Uma tal adaptação implica a aceitação de normas e valores sociais, um comportamento conforme a essas normas e a adaptação às instituições sociais que são criadas em função das normas do sistema. Ora, Fromm rejeita este ponto de vista. Considera que existem necessidades fundamentais comuns a todos os homens. São fundamentais porque são a expressão das condições reais que determinam a ‘existência humana’. O homem evoluiu a partir da animalidade; estado caracterizado pelo equilíbrio e a harmonia com a natureza, o desenvolvimento humano criou uma situação onde o homem está ‘consciente dele próprio’ e onde a sociedade adquire cada vez mais importância. Em contrapartida, essa situação origina sentimentos de insegurança e suscita a necessidade de atingir uma nova situação de equilíbrio. É esta concepção da ‘condição humana’ que constitui a base das diversas necessidades fundamentais de onde postulamos a existência. Um meio que não permita a satisfação dessas necessidades impedem o homem de viver uma vida que permite a saúde mental. Uma vez que é a organização social e a estrutura da sociedade que são responsáveis pelos obstáculos que a sociedade reencontra na satisfação das necessidades, é na sociedade que é preciso procurar a transformação, sobretudo nas condições económicas fundamentais, isto é, nas modalidades de produção e de distribuição. O que está em causa é que “não podemos definir a saúde mental em termos de adaptação do individuo à sociedade, antes pelo contrario, ela deve ser definida em termos de adaptação da sociedade às necessidades do homem, em função da sua aptidão para favorecer ou limitar o desenvolvimento da saúde mental”. Segundo Fromm, o desenvolvimento significa, também que novas características apareçam na espécie humana, características que se traduzam por novas necessidades fundamentais para todo o indivíduo numa dada etapa do desenvolvimento humano. Uma sociedade que não permita a satisfação dessas necessidades origina o aparecimento de indivíduos manifestadores de certas perturbações mentais. Uma tal sociedade é uma sociedade doente.
A teoria de Fromm está fortemente centrada no indivíduo. Nela encontram-se correntes de pensamento que relevam, quer da psicanálise, quer do marxismo. Fromm propõe-se integrar essas duas formas de pensamento. Todavia, a teoria de Fromm não implica um conflito insolúvel entre as necessidades individuais e as exigências da sociedade como é o caso de Freud, por exemplo. Fromm postula a existência de necessidades humanas que numa organização social ideal deveria constituir a base sobre a qual se estrutura a sociedade. Trata-se de uma teoria do carácter social que constitui o ponto de partida do sistema de Fromm. Opondo-se ao carácter individual que compreende todas as características e as aptidões próprias a um dado individuo, o carácter social é constituído por tudo aquilo que é comum aos membros de uma categoria social dada, por exemplo, uma classe, uma nação, uma cultura. Fromm sublinha que não se impõe o fazer a soma de todas as aptidões que se encontram na maioria dos membros de uma categoria social, pois ‘a estrutura’ contem uma espécie de organização dinâmica das aptidões e dos traços característicos. O conceito de ‘carácter social’ pode ser interpretado como sublinhando a semelhança entre este conceito e o que se designa por ‘expectativas interiorizadas de papel’, isto é, aprendidos e aceites e que decidem do comportamento individual em que se interrogue sobre as razões de um tal comportamento. Max Weber chama-o de ‘espírito do Capitalismo’ pelo facto de o trabalho ser entendido como uma necessidade e como um dever, de onde a evidência surge de si. Na medida em que tal concepção é partilhada pela classe trabalhadora das sociedades industriais podemos considerar que ela é parte integrante do ‘carácter social da classe trabalhadora’. O próprio Fromm escreve que o Capitalismo só pode funcionar como homens que amem o trabalho, que sejam disciplinados e pontuais, onde o principal centro de interesse é o ganhar dinheiro; no século XIX, o Capitalismo tinha necessidade de homens que gostassem de economizar; em meados do século XX são precisos homens cuja paixão seja a de gastar e consumir.
O carácter social é formado no curso do processo educativo e é mantido e reforçado pelas “influências ideológicas” que se exercem no seio dos mass media, na literatura, na religião, etc.. A educação, isto é, os métodos da educação não são arbitrários. Eles dependem da estrutura da sociedade e onde os pais e a família têm um papel social importante enquanto intermediários.