No dia 20 de Maio, pelas 20h30, realizou-se no C.M.I. a 3ª edição do 'Ousadias do pensar', organizado pelo Grupo 410 - Filosofia, da Escola Secundária Dr. Serafim Leite. Este evento anual marcou, mais uma vez, a sua raiz: a de se constituir, sobretudo, como  um 'balão de ensaio' na produção de reflexões (escritas, cenográficas, performativas,...) por parte de alunos dos ensinos diurno (10º, 11º e 12º anos) e nocturno (EFA, Módulos capitalizáveis).

À imagem das anteriores edições, as participações tiveram o cunho da espontaneidade, já que foi produzido para e pelos próprios alunos. Houve alunos 'repetentes'...a Cláudia Oliveira foi um desses casos. A quem não pode estar presente, e com a cortesia da própria Cláudia, faculta-se um dos seus textos:

SEGREDO ENCOBERTO

Caiu bruscamente e quebrou-se neste espaço... Puxei pela minha criatividade! Não por aquela criatividade associativa de passagens já criadas, existentes por aí algures neste universo roto. Imaginação criativa pura! Sem que tu possas lembrar deste e daquele, desta e de outra coisa qualquer. Que não possas até de mim lembrares. Sem mais associações... Atitude repugnante a vossa, e sabereis porquê! Espalhada por aí (já me criaram, e eu contente por pensar-me primeira), quebraram-me em pedaços, pedaços dos quais tenho a consciência de já não serem completamente meus.

Assim, porque me continuas a pronunciar baixinho ao meu ouvido: pareces este ou aquele, com esta ou outra coisa qualquer. (Onde é que partes de mim devem andar? Onde? Quando? Proporções minhas, que idades tereis? Eternas possivelmente sereis...).

A invenção é do seu criador, e só ele poderá dizer: Pertence-me! Ou se todo ele criado por si: Pertenço-me!

Fazeis sentir-me uma cópia, uma impressão vinda de não sei onde. Sinto-me feita por vários inventores, escrava de vários donos. Desapareceu em mim algo que ainda não sei bem o que é. Provém de uma sensação, não me pertencer inteiramente. Uma anónima vontade de ser a primitiva! No entanto, partes de mim já foram criadas por outros antes de mim. Tento buscar-me nesses corpos (de)mentes. Foste tu quem me contou esse segredo incógnito: Pareces este ou aquele, com esta ou outra coisa qualquer. Imediatamente, e sem hesitações decifrá-lo-ei! Eu não sou bem de mim, não o sinto porque estão-me sempre a dizer que eu tenho coisas que os outros já possuem, que eu pareço este ou aquele com esta ou outra coisa qualquer...

É cruel este meu pensamento!

Ainda para juntar a esta angústia maldita, todos (nem todos) têm, à minha semelhança pernas, nariz, boca, língua... Uma morfologia, uma anatomia igual! (Será que eu queroser um mutante incomum? Talvez... Para que não mais me possas sussurrar: Pareces este ou aquele, com esta ou outra coisa qualquer).

Deu-me uma vontade enorme de vos matar a todos! Cometer homicídios sem conta. Destruir tudo aquilo de que qualquer forma te poderá levar a dizer: Pareces este ou aquele, com esta ou outra coisa qualquer.

Apagar, totalmente, tudo aquilo a que me posso assemelhar! Tu que pensas, e poderás criar um pensamento igual ao meu! Tu que te moves! Tu que tens corpo!

Tu que falas... e me poderás copiar...

Pouco escaparia, melhor explicando... Quiçá nada! Nem eu mesma, porque ecoaria no meu cérebro: Pareces este ou aquele, com esta ou outra coisa qualquer... que assassinaste!

Porém, lembro-me numa espécie de epifania destrambelhada que me tinha esquecido que sou uma criação de associações cujas sequências me faço, e ninguém conseguirá decifrá-la, pois a probabilidade de a conseguir alcançar é mais pequena do que a mais pequenas partícula constituinte da matéria (como um esquecimento pode levar a tanta confusão).

Descodificado o ter segredo encoberto, poderás sussurrar-me levezinho e sem medos: Pareces este ou aqueles, com esta ou outra coisa qualquer..Com quem te pareço agora?

Cláudia Oliveira
Ousadias do Pensar  |  Maio 2011

Todos os caminhos foram dar ao pensamento.

Num tempo em que somos, cada vez mais, convidados a pensar pela cabeça dos outros, os professores de Filosofia e ofícios correlativos resolveram convidar-nos a pensar pelas nossas. Deram ao desafio o sugestivo nome de “Ousadias do Pensar” e reuniram-nos no auditório do CMI, na noite do passado dia 20 de Maio, como já o haviam feito nos dois anos anteriores. Numa casa cheia, também com muitos pais e familiares, os alunos foram fazendo desfilar os seus pensamentos, utilizando várias linguagens: a propriamente dita, falada, a gestual, a visual, a corporal… Aposta ganha, sorrisos rasgados daqueles que participaram pensando; satisfação dos que foram convidados a pensar. A Escola já não pode passar sem estas ousadias!

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