Orlando Ribeiro, considerado precursor da Geografia moderna portuguesa do século XX, desenvolveu um trabalho de carácter acentuadamente interdisciplinar e foi um dos pensadores mais influentes das nossas ciências sociais. Sob o princípio de que “não se faz bem Geografia quando se faz só Geografia”, marcou a diferença no estudo e no ensino desta ciência.

José Leite de Vasconcellos (etnólogo) assim se lhe refere numa carta de recomendação, em Junho de 1934: “Orlando Ribeiro possui não vulgar inteligência. Dedica-se com grande afã e como especialista a estudos de Geografia, sobretudo Antropogeografia e concebe paralelamente também alguma atenção aos de Etnografia. Poucas vezes tenho encontrado na vida literária ou pedagógica, rapaz tão aplicado, tão brioso e que tanto a sério toma o estudo.

Creia V.ª Ex.ª que lhe falo com inteira verdade e que me parece que tudo o que a Junta fizer em benefício dele será bem empregado e de sobra compensado no futuro.

 Nascido em 16 de Fevereiro de 1911, em Lisboa, (assinala-se, no presente ano, o centenário do seu nascimento), cedo sentiu-se inspirado pela natureza para traçar os princípios da sua vida: “Fui várias vezes de férias a Viseu. Tudo lugares onde o campo está perto, onde era possível estar só, passar por sítios aprazíveis, apanhar amoras e na beira dos caminhos cortar canas para fazer brinquedos. A partir destas recordações de infância, sinto-me profundamente enraizado na vida obscura do meu povo, criado entre gente simples e humilde. Fiquei sempre fiel às origens, ao gosto por uma vida sóbria, limitando facilmente as ambições materiais e nunca sacrificando propósitos mais elevados. Este ideal procurei transmitir aos meus filhos.

 O ambiente rural, o campo com a largueza dos seus horizontes despertaram particularmente a sua atenção: “O gosto da Geografia devo-o ao amor da natureza e da vida no campo, desenvolvidos em longos passeios a pé, que dava nos arredores de Viseu. (…) Recordo ainda algumas impressões profundas das minhas primeiras viagens: as aldeias de casas colmadas, envoltas na névoa de um frio Verão, na Serra de Montemuro, os alcantins do Corgo, no caminho-de-ferro para Chaves, o contraste de paisagem entre as duas vertentes do Caramulo, tudo visto e comentado em companhia do meu avô.

 Na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, passou a frequentar a licenciatura em História e Geografia. O etnólogo José Leite de Vasconcellos, a quem Orlando Ribeiro designava por Mestre, foi preponderante nas sólidas bases da sua formação: “a ele mais do que a ninguém, devo a posse de uma disciplina de trabalho e de um ideal de servir a Ciência e, por seu intermédio, o conhecimento das coisas portuguesas”.

A sua opção pela Geografia atribuiu-a à leitura da obra Princípios de Geografia Humana, de Vidal de La Blache (geógrafo francês), pelo constante apelo à observação e ao passado. “A Geografia em tudo o que toca o homem, era como uma maneira de ver e sentir o que a História persistiu até nós. Nunca mais deixei de associar estritamente as duas ciências e, com tudo o que aprendi, continuo a pensar que, sem uma profunda indagação do passado, a visão maior dos factos da Geografia humana permanece superficial e incompleta. Os relevos calcários e areníticos, à sombra da serra de Montejunto, e a vida rural que se desenrola nos seus vales e trepa pelas encostas, foram alicerce de observações em que assentei a minha vocação de geógrafo. Muitas vezes saí de madrugada, com o farnel para o dia, voltando já de noite, depois de cinco ou seis léguas de marcha”.

 


 
 
 

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