No âmbito do estudo do Módulo 2 (O meu passado e o meu presente) do Curso de Português Língua de Acolhimento, os formandos efetuaram a recolha e reescrita de lendas que marcaram a sua infância. Uma delas foi recolhida pela formanda Luz Marina Espitia, natural da Venezuela.

A chorona (Lenda hispano-americana)

chorona 0A chorona é uma lenda hispano-americana que, segundo a tradição oral, representa o espírito de uma mulher que afogou os seus filhos e, posteriormente, arrependida e amaldiçoada, procurou-os à noite em rios, vilas e cidades, assustando com o seu avassalador chorar todos aqueles que a veem ou ouvem à noite.

Assim, reza a lenda que esta foi uma história de terror familiar que tem origem no início do século XVI, na América do Sul. Em noites de lua cheia, vizinhanças inteiras teriam o sono perturbado pelo choro insistente de uma mulher desesperada. Ela estaria à procura dos seus dois filhos. Mas encontrá-los seria impossível: ela própria teria matado as crianças.

Segundo a lenda, essa chorona, como ficaria conhecida, chamava-se Maria. Apaixonada por um homem que a sua família desaprovava, ela decidiu fugir com o amante, e teve dois filhos com este. Até que, certo dia, Maria descobriu que estava a ser traída pelo marido com outra mulher.

Arrasada e cega de raiva, a mulher pegou nos seus filhos — símbolos daquele matrimónio desastroso – e afogou-os num lago. Dois dias depois, quando o ataque de fúria passou, Maria voltou ao rio para encontrar os filhos. Descobriu os dois na margem oposta — ambos já sem vida.

Assim, com a dor insuportável da culpa e do arrependimento, esta morreu de depressão. Mas a sua agonia não teria acabado com a morte. Desde então, o seu fantasma vagaria flutuando pelas cidades, com um vestido branco e um véu que cobre o seu rosto pálido. O espectro levanta as mãos para o céu e chora.

Poderia ser só uma lenda triste se a história não fosse ganhando detalhes assombrosos. Maria não apenas flutuaria aos prantos. Ela também roubaria crianças para substituir as suas.

Esta lenda é a mais clássica do México, e teve tanto sucesso que vários países fizeram adaptações para as suas culturas, como o Brasil. Até dentro do próprio México, há versões mais ou menos diferentes da lenda original. Um dos relatos mexicanos alternativos fala de uma índia que se teria tornado amante de Hernán Cortés, o conquistador espanhol que destruiu o Império Asteca. Ela ter-se-ia arrependido de apoiar os colonizadores, e daí a choradeira.

Outra versão diz que se teria afogado junto com os filhos.

(recolhida e traduzida por Luz Marina Espitia – PLA A2)


 
 
 

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