“No teatro há um quadrado a que as pessoas chamam palco, mas esse quadrado é muito mais do que isso: é um lugar em que se espalham emoções”. Foi mais ou menos com estas palavras que Thereza Silva, actriz e declamadora luso-brasileira, iniciou a sua actuação nos “Palcos e Cenas”, que levaram cerca de uma centena de pessoas aos Paços da Cultura, na chuvosa noite de 18 de Fevereiro deste ano da graça de 2011.


Quando a mulher de negro deslizou pelo cenário negro, sobre as tábuas avermelhadas do palco, banhada por um intenso foco de luz, foi a luz e não o negro o que ficou a brilhar nas retinas e nos ouvidos da plateia. Antes dela, tinham estado ali a Professora Maria Assunção Sousa,  do grupo "Espaço Aberto", a Profª Alexandra Pinto, em representação da Directora da Escola Serafim Leite e o Dr. Rui Costa, Vice-presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira. Nas palavras de todos, o reconhecimento do papel de “Palcos e Cenas”, como antevisão do Festival de Teatro que há-de chegar lá para Abril.

A viagem 

“Obrigado por me darem esta oportunidade de trocar emoções convosco. O acto de representar é uma troca de emoções e cada poema é uma pequena peça de teatro.” Portanto, aquilo que se seguiu foi a representação emocionada de umas dezenas de peças de teatro, de muitos autores, uns portugueses, outros brasileiros, uns mais conhecidos, outros menos, mas, a uni-los, um denominador comum – a emoção. E não se pense que emoção é sinónimo de tristeza: emoção é alegria e é tristeza, é espanto e é desilusão, é aquilo que o poeta quiser representar no momento da criação.

A viagem pelas emoções começou em Cecília Meireles, ou não fosse a Thereza uma estudiosa de Cecília. “Eu canto porque o instante existe / e a minha vida está completa. / Não sou alegre nem sou triste: / sou poeta.” Logo a seguir, Torga: “Se cantasse, talvez o coração / Sossegasse no peito.” Depois, as emoções bem-dispostas de Martins Alvarez a brincar com o fascínio da “muié” que “Tem cara de santo / Tem cheiro de santo / Tem força de santo / Mas santo não é!”, provando que a poesia é também o fascínio de brincar com as palavras e com aquilo que elas representam. Entre muitos outros poetas onde foi pousando a voz e a emoção de Thereza Silva, a viagem prosseguiu com paragens mais significativas em Gedeão, Florbela Espanca (Sinto hoje a alma cheia de tristeza! / Um sino dobra em mim Ave-Marias!), Manuel Bandeira viajando “pra Pasárgada”, onde talvez encontre Álvaro de Campos, um dos Outros de Pessoa, transbordando aquela “velha angústia” que o fará gritar no final: “Estala, coração de vidro pintado!”. E Eugénio de Andrade, e Júlio Dantas e Pereira da Graça, e…

therezaO Teatro é a vida

Finda a jornada, chegou a oportunidade de dialogar com o público. “Então minha gentche, alguém me quer fazer alguma pergunta?” Havia de facto muita gente a querer fazer perguntas: sobre os segredos do acto de representar, sobre a condição do actor, sobre a facilidade ou a dificuldades de estar em palco, sobre o direito de (re)criar aquilo que o dramaturgo escreveu, sobre a “geografia das emoções”… A tudo Thereza respondeu com a simplicidade da vida: “O segredo para sermos mais fortes é olhar o próximo. Ponha-se sempre no lugar do outro! Conte os “obrigado” que você disse durante o dia e você terá a medida da forma como se relacionou com os outros... O actor é uma pessoa que evolui com a sua própria experiência de vida e que a conjuga com a sensibilidade e com o talento… Fazer teatro é fácil, todos podemos fazer teatro, todos fazemos teatro ao longo da vida, porque todos desempenhamos vários papéis, somos filhos, depois seremos pais, somos esposas e maridos, somos profissionais de um determinado ofício… Vocês já pensaram quantos papéis nós desempenhamos ao longo da vida?... A nossa vida é uma viagem e nós transportamos connosco uma mochila onde guardamos a nossa experiência e as nossas emoções. Quando subimos ao palco levamos connosco essa mochila, na primeira vez, sentimos medo, mas, depois de começarmos, tudo fica calmo…. Se há uma geografia das emoções? Há! O próprio clima faz as pessoas diferentes. Os nórdicos têm mais dificuldade em exprimir as suas emoções. Há quem diga que Portugal tem grandes escritores, porque os portugueses têm dificuldade em exprimir as suas emoções em público e então descarregam no papel aquilo que não conseguem exprimir de outra forma.

 “Ninguém mais quer perguntar nada? Então vamos terminar”. Mas o público queria mais, talvez para poder levar “na mochila” mais algumas emoções dos poetas-amigos de Thereza Silva. Por isso, a noite terminou com “O Romance de Cabiúna”, de Ribeiro Couto, seguido de muitas palmas, de pé, e de um merecido ramo de flores, talvez semelhantes às que decoravam a entrada e a escadaria dos Paços da Cultura.

Até sempre, Thereza Silva! Obrigado pela magia da noite!

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