Parabéns ao “Agora Nós”, por ter criado um espaço para a Opinião.
Ter opinião na “gaveta”, não é ter opinião — é ter medo de ter opinião.
“Moderar” as opiniões é construir a Opinião; “censurar” é construir o “medo”...
A equipa do “Agora Nós”, à qual pertenço, quer construir Opinião.
Este espaço da Opinião sobre “atualidade pedagógica” e “política educativa”, foi encetado com o texto de um aluno. Este facto é significativo.
O referido texto não enfrenta, de forma explícita, as áreas gerais de discussão do fórum, mas contém quatro palavras de ordem que refletem, subliminarmente, o exato efeito das políticas educativas dos últimos seis anos: “sucesso”; “resultados”; “objetivo”; “profissão”.
Procura ser um homem de valor, na vez de um homem de sucesso.
— Abert Einstein.
Pertenço a uma geração de professores de Artes Visuais que abraçaram a profissão há 25 anos, juntamente com o ideal do livro “Educação pela Arte”, de Herbert Reed — um ideal contrário ao paradigma então dominante. Esse paradigma é, contudo, cada vez mais dominante e reprime as virtudes da Arte. Ela é, mesmo, estruturante: Mais estruturante do que a própria Língua e do que o próprio Fatalismo Matemático que formam a centralidade curricular de uma educação confrangida. A Arte é uma verdadeira Fábrica de Pensamento e de Atitude, pelo que as sociedades liberais, para além de não a compreenderem, tendem a desvirtuá-la. Como poderiam tais sociedades conceber aquilo que não tem propósito material algum?
A Arte serve para não servir. Há “Ensino Visual” na escola pública, mas não há “Educação Artística”. “Só é belo se for útil” é a percepção estética de uma burguesia já extinta... Uma percepção recuperada pelos sistemas educativos neoliberais.
A “escola pública” alimenta a Ética: não consagra Objetivo nem Finalidade — consagra Princípio.
A “escola pública” não serve a “profissão” nem a “produção”.
São os professores (e não os “políticos”), quem “Fala” com os alunos e é urgente que percebam que a Ética é um “luxo”...
Pois é um “luxo”: custa tanta integridade e tanta convicção que não está ao alcance de qualquer um — nem todos a conseguem pagar — é “coisa” que a “banca”, ainda bem, também não pode emprestar.
Reside aqui, a velha luta de classes, divididas entre dois “luxos” distintos — o material e o imaterial — e, ainda, entre esses dois e a “necessidade”.
A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais do que os rudimentos do voo, como ir da costa à comida e voltar. Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Para esta gaivota, no entanto, o importante não era comer, mas voar.
— Richard Bach.
Amo esta metáfora de Richard Bach, porque lembra o estado atual da Escola Pública, repartida entre uma oferta educativa maior — dos rudimentos para o “emprego” — e uma oferta educativa mais restrita, de virtudes superiores para a construção da “identidade”...
A “escola pública” deve consagrar a pessoa humana e a valorização plural do indivíduo.
Mais do que o mero “conhecimento”, a “escola pública” deve construir ”consciência” e “identidade”.
Sem “consciência”, o “conhecimento” é um ato banal, incivilizado e anexo. Sem “identidade”, a quem pertence?
Afogados na dívida oceânica do Tempo — nessa azáfama que os separa e os distrai — os trabalhadores vão reivindicando o que menos precisam enquanto “pessoa humana”.
A pessoa humana precisa de tempo para a “consciência” e para a “identidade”.
Os professores precisam de ser “pessoa humana” para merecer a Profissão que ocupam — precisam do tempo que já não têm.