“Está sim?...” Sim! Esteve muita gente na Sala dos Fornos da Oliva, no dia 3 de maio, para onde o grupo de teatro “A Troupe” transportou o XI Festival de Teatro de São João da Madeira, com a adaptação do episódio 1 da série televisiva inglesa «Allô Allô», que a encenadora Teresa Soares batizou com o nome “Está sim?... Fim de transmissão”.
Esta série da BBC, que alcançou um enorme sucesso em todo o mundo, baseia-se numa abordagem cómica do papel desempenhado por vários intervenientes da Segunda Guerra Mundial, concentrados numa vilória francesa, com epicentro no café de um pacato cidadão que se vê envolvido numa trama em que conspiram comandantes alemães, a Gestapo, membros da Resistência Francesa, aviadores ingleses e um sem número de outras personagens-tipo que conferem maior comicidade à história.
Mas não é da história de “Allô Allô” que pretendemos falar, porque a abordagem criativa feita pela Troupe transportou essas personagens para a realidade portuguesa anterior ao 25 de abril, onde se movimentavam tenentes revolucionários e outros apoiantes da revolução, soldados, agentes da PIDE e altas patentes do exército. O senhor João e a sua “família alargada” tinham, pois, que gerir esta babel de intenções, tarefa nem sempre fácil...
Um cenário diferente
Comecemos pela opção cénica. A Sala dos Fornos é um imenso salão retangular, sem cadeiras e sem palco de raiz, onde foram recriados os principais espaços sugeridos pela série original, colocando um palco em cada parede do quadrilátero: o balcão da tasca do Sr. João, na parede frontal à entrada; a adega à esquerda; o quarto da sogra, leia-se “gabinete de transmissões”, à direita e o gabinete dos militares, na parede frontal ao balcão da tasca. Tendo normalmente como ponto de partida o balcão, o público era convidado a deslocar-se entre os quatro palcos, tarefa a cargo dos próprios atores, que conduziam o público de um palco para outro.
O público rapidamente compreendeu que esta peça não dava para “passar pelas brasas” e por duas razões: primeiro, a comicidade das situações fazia brotar constantes gargalhadas; em segundo lugar, para assistir à cena seguinte, era necessário “dar ao pedal”. Quem não fosse expedito a acompanhar a mudança, arriscava-se a ficar mais atrás, o que também não era problema, porque a visibilidade era boa para todos os palcos e as condições acústicas excelentes. E foi assim quase durante duas horas! Como alguém diria no fim, “esta peça, além de nos divertir, ainda nos permitiu poupar no ginásio!”.
Atores & gargalhadas
Quanto ao desempenho dos atores, apenas uma palavra: excelente. Superaram com segurança a dificuldade de terem que se movimentar em diversos palcos e mantiveram o público sempre preso à ação. Se alguém pensa que é fácil desempenhar papéis predominantemente cómicos, desengane-se, porque o cómico, quando não o consegue ser, torna-se trágico. E esta peça foi tudo menos uma tragédia. E se não destacamos nenhum momento, nem nenhuma cena em especial, é porque a homogeneidade da representação não no-lo permite. Obviamente que não esqueceremos tão cedo o ridículo de algumas situações, como a do quarto da sogra transformado em gabinete de transmissões, a pujança do quadrilátero amoroso do senhor João e a habilidade em lidar com uma clientela “difícil”, a capacidade de improviso no gabinete do general, ou a dificuldade dos “habitantes” da adega em se fazerem entender.
No fim da peça, com o grupo todo reunido no quarto da Dª Deolinda, era visível a alegria de uma missão bem cumprida. Percebeu-se também que “A Troupe” é um grupo de teatro que vai muito além dos dezoito atores e da encenadora Teresa Soares, porque envolve dezenas de pessoas da comunidade, entre docentes, assistentes, pais e outros amigos. Essa caraterística e o trabalho árduo da encenadora e de todo o grupo estiveram bem presentes nas palavras de apreço proferidas pela diretora do Agrupamento e pela respresentante do "Espaço Aberto", professoras Anabela Brandão e Manuela Balseiro. A tenacidade com que o Martim e a Catarina leram a mensagem final e as palavras emocionadas da encenadora Teresa Soares foram bem o espelho do espírito do grupo, que conseguiu essa tarefa hercúlea de criar uma sala de teatro naquele espaço imenso e de fazer dela um forno de gargalhadas. “Fim de transmissão!”
Celestino Pinheiro
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Está sim?... Fim de transmissão