Leia o conto de Natal escrito pelo patrono Serafim Leite [aqui]

capa pequeno

Embora no comércio e nas ruas cedo comece a cheirar a Natal, muitas vezes ainda mal novembro tem espreitado, neste espaço a quadra só chega mesmo portas de dezembro adentro. Não sendo objetivo conotar estas linhas com crenças religiosas instituídas, mas não negando igualmente as raízes judaico-cristãs da cultura ocidental mormente a matriz católica da nossa identidade enquanto povo, selecionamos para alimentar o nosso espírito neste mês um conto de Natal do padre Serafim Leite.

Se a opção pela temática é facilmente compreensível (para não dizer até previsível!), a opção pelo autor não o será menos. Com efeito, o patrono desta casa tantas vezes invocado nos nossos rituais de trabalho, mas tão poucas evocado na sua faceta literária, pareceu-nos ser personagem mais do que conciliadora de ambas as pretensões e, assim, aqui surge em pleno fulgor do seu espírito artístico numa das suas criações: Iluminuras.

Apesar de não ser habitual integrar qualquer excerto das obras faladas, a data impõe troca de presentes e aqui vos entregamos o nosso: um conto de Natal do autor celebrado, esperando sermos retribuídos com a sua leitura e a sua degustação. Afinal, “Estado de S. Luís livre: um Natal de hoje” é mesmo de hoje, da contemporaneidade, dos dias em que pela primeira vez na nossa história recente o retrato familiar esboçado ultrapassa a imagem sentimental do “Natal dos pobrezinhos” para ser, infelizmente um retrato social alargado, tanto em estratos como em fronteiras geográficas.

Estejamos, pois, atentos e arrisquemos fazer a diferença tantas vezes necessária e mesmo ao nosso lado.

Já agora, feliz Natal!

 

Biografia

serafim

O padre Serafim Leite nasceu em S. João da Madeira, em 6 de Abril de 1890. Depois de frequentar alguns anos o Seminário dos Carvalhos, no Porto, embarcou para o Brasil (estado do Pará) e dedicou-se ao comércio no Amazonas. Aí trabalhou como caucheiro, convivendo muitos anos com os índios do Alto Rio Negro, selvícolas de Padaneri e do Rio Vaupes, aprendendo a sua língua geral. Em 1914 entrou para a Companhia de Jesus. Tendo cursado Letras Humanas, em Múrcia, Filosofia em Granada (Espanha), e Teologia em Enghien (Bélgica), completou a sua formação religiosa e ascética em Paray-Ie Monial, França, e professou, solenemente, em 1932. Neste mesmo ano, iniciou a composição da «História da Companhia de Jesus no Brasil», obra monumental em vários volumes.

O Secretariado de Propaganda Nacional atribuiu-lhe o Prémio Alexandre Herculano, em 1938. Três anos antes, no Concurso Histórico de S. Paulo, fora conferido o primeiro prémio ao seu estudo sobre «Os Jesuítas na Vila de S. Paulo (século XVI)». No género histórico, publicou, ainda, outros trabalhos muito apreciados, entre os quais «Alão de Morais» (1929), «Páginas da História do Brasil» (1937), «Novas Cartas Jesuíticas de Nóbrega a Vieira» (1940), bem como muitos artigos dispersos por revistas portuguesas e estrangeiras.

Reconhecendo os altos méritos de historiador de Serafim Leite, a Academia Portuguesa de História nomeou-o seu sócio honorário. Pertenceu, igualmente, à Academia Brasileira de Letras, à Academia de História do Equador e foi sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, sócio benemérito do Centro D. Vital, do Rio de Janeiro, membro do grupo português da Academia Internacional da História das Ciências, secção de Lisboa, e fez parte da direção do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia.
Foi ainda membro da Comissão Orientadora da Exposição Histórica da Ocupação e do Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo, realizado em Lisboa, em 1937, e membro da Secção do Congresso Luso-Brasileiro, nas comemorações do duplo centenário (1939-1940).

Pelos serviços então prestados, o Governo Português condecorou-o, em 1938, com o grau de comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada, Mérito Artístico, Científico e Literário. Dois anos depois, o Governo Brasileiro conferiu-lhe a comenda da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Era ainda doutorado «scientiae et honoris causa», pela Universidade do Rio de Janeiro (1949), e pertencia, desde 1950, à Gallery et Living Catholic Authors, dos Estados Unidos.

Residiu em Roma desde 1949, no Instituto Histórico da Companhia de Jesus, entregue aos seus trabalhos de investigação e à publicação de documentos relativos à história da Companhia no Brasil, para a secção brasileira, «Monumenta Brasiliae», da colecção «Monumenta Historica Societatis Iesu».

É vastíssima a sua bibliografia. Em 1962, publicou-se em Roma uma «Bibliografia de Serafim Leite, S. J.» e já então se registavam, ali, 277 trabalhos, entre os quais algumas novelas e contos, poesia e estudos sociais, publicados em diversas revistas e, alguns, reunidos em volume, como: «lIuminuras» «NoveIas», Lisboa, 1930; «Trajectórias» (1931) e «Do Homem e da Terra» (1932), poemas; «A Retribuição do Trabalho», Porto, 1933 e 1937, etc.

A par da sua colaboração em revistas e da sua actividade científica, Serafim Leite publicou, ainda, diversos artigos no jornal «Novidades», entre 1928-29, com o pseudónimo Mário Victor. 
Este ilustre humanista constitui, para a cultura portuguesa, um dos seus elementos mais prestigiosos nos domínios da História. Dele escreveu, há anos, o prof. Robert Ricard, da Faculdade de Letras do Universidade de Argel:

«Serafim Leite possui um excelente conhecimento da bibliografia hispano-americana. Não sabe apenas o que se publica em Portugal e no Brasil, sabe, também, o que se faz na Espanha, na Argentina e no México, visão amplamente ibérica e, por isso mesmo, autenticamente católica. E como a isto junta perfeita serenidade de expressão e discernimento, é guia que se pode aceitar com toda a confiança.»

In Aveiro e o seu distrito, nº 16, dezembro de 1973
www.prof2000.pt/users/avcultur/aveidistrito/boletim16/page29.html


 
 
 

Portal do AESL

logotipo ESCOLA EMAIL